sábado, 4 de setembro de 2010

A dura vida nos engenhos do Brasil colonial


Escravo sendo castigado. Debret


A difícil vida dos africanos  que vinham, de forma compulsória, para trabalhar na América portuguesa, já era terrível durante a viagem de travessia do Atlântico. 
A travessia do "Atlântico Negro" durava mais de dois meses. Espremidos nos porões dos navios negreiros ou tumbeiros, milhares de homens, mulheres e crianças suportavam calor, sede, fome, sujeira, ataques de ratos e piolhos, surto de sarampo ou escorbuto. Amontoados nos porões,durante o percurso eles tinham de permanecer sentados, acorrentados uns aos outros e com a cabeça inclinada. Muitos não resistiam, e acabavam jogados ao mar. 
A chegada ao Brasil significava o fim de uma longa jornada de horror. No entanto, era apenas o início de outras tantas atrocidades que o escravo ainda teria de enfrentar.
Chegando a colônia os sobreviventes, eram encaminhados para grandes armazéns, onde seriam negociados.
Eram eles que realizavam quase todo o trabalho: na lavoura, nas casas, na exploração mineira, nos serviços urbanos, no transporte de pessoas e mercadorias. Trabalhavam até o limite máximo de suas forças.
Nos engenhos, por exemplo, a jornada diária  de trabalho durava de 14 a 17 horas, sob a vigilância dos feitores, que tinham ordens de castigar os "preguiçosos".
Os castigos, aplicados em público para servir de exemplo aos demais, eram cruéis: açoite, amputação, palmatória, tronco, máscara e coleira de ferro, correntes com peso. Considerava-se o castigo físico um direito e um dever dos senhores.
Os escravos urbanos tinham maior liberdade de locomoção e muitos trabalhavam sem a restrita vigilância dos senhores. Havia senhores urbanos que cediam em aluguel seus escravos a outras pessoas, como também eram uma fonte de riqueza importante, pois exerciam ofícios recebendo uma remuneração que revertia para seus donos.
Os escravos de ganho conseguiam às vezes guardar parte dos rendimentos que recebiam e assim, após décadas de poupança, foi possível a alguns comprar a sua liberdade. Alguns escravos libertos,  adquiriram escravos para si.
Vendedor de Leite. Pintura de Debret.
Fonte: asminasgerais.com.br
Os escravos reagiram de diversas formas à escravidão: com vinganças contra os feitores, sabotagens, revoltas e fugas. O escravo capturado era marcado com ferro em brasa, no peito ou na testa, com a letra F (fujão); ou, então, amputava-se alguma parte de seu corpo - a orelha ou o pé, por exemplo.
Mas havia também os que conseguiam fugir e formar quilombos. o maior deles foi o Quilombo dos Palmares ( na região dos atuais estados de Alagoas e Pernambuco), que conseguiu reunir cerca de 50 mil quilombolas entre 1630 e 1695.   
O tráfico negreiro provocou um dos maiores deslocamentos populacionais da história da humanidade. Os pioneiros nesse lucrativo negocio foram os portugueses, seguidos pelos espanhóis, atraídos pelo comércio de escravos e pelo ouro. Os espanhóis foram ao papa reivindicar o direito de também fazer negócios na costa africana. No entanto, foi confirmada a primazia lusitana.
Os portugueses foram senhores absolutos no tráfico ao longo de todo o século XVI, quando a conquista da América aumentou a demanda por escravos. No interessante livro História Geral do Brasil, Francisco Teixeira da Silva, coloca que a escravidão para os portugueses, era considerada justa por  trazer os infiéis para a Igreja, instituição forte  em Portugal. Inicialmente os portugueses escravizavam os mouros para trabalhos domésticos e nas lavouras; mais tarde vieram os canários  (moradores das ilhas do atlântico norte, Canárias),utilizados nas ilhas dos Açores,Madeira,São Tomé e Cabo Verde, nas lavouras de cana-de-açúcar, por fim, os negros, tomados na costa d'África. A partir do século XVII aparecem também os franceses e ingleses, para fazer concorrência aos ibéricos.
Nesse momento, o tráfico transatlântico já havia se transformado em uma indústria, que iria crescer cada vez mais, até atingir o ápice no século XVII, e seu declínio no século XIX, com a proibição do trânsito de navios negreiros no Atlântico.

A seguir algumas gravuras de Jean-Baptist Debret.
Paris, 1768 a 1848. Pintor e desenhista francês. Integrou a Missão Artística Francesa (1816), que fundou no Rio de Janeiro. Publicou Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1834-39). Nessa obra Debret reflete forte influência do iluminismo francês, pois, não preocupa-se em apenas retratar batalhas, mas mostra aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira do início do século XIX, retrata seu cotidiano,seu povo,seus costumes,sua expressão, suas festas. 




Escravo no Pelourinho. Debret
                           Fonte: trilhahistorica.blogspot.com



Escravos transportando um proprietário em rede. Debret
Fonte: Tg3.com.br


Fonte: Portalsaofrancisco.com.br


Escravo castigado com palmatória. Debret
            Fonte: contoseafinslucianesilva.blogspot.com

Debret.
                                                                              Fonte: galeriaphotomaton.blogspot.com


Debret aves.jpg.
                                                                            http://www.pintoresdorio.com/




Escravos para serem vendidos no mercado    
Fonte: lab-eduimagem.pro.br