Personagem: Napoleão Bonaparte
Um pouco de sua história
Nasceu em 1769, na ilha de Córsega, como Napoleão Bunaparte - retirou o "u" anos mais tarde para soar "mais francês". Estudou em escolas militares e, tímido, tinha poucos amigos. Como seu tipo físico (media 1,58m)inspirava piadas, sentia-se marginalizado entre os colegas aristocratas. Cresceu cultivando ódio pela nobreza e pelo então sistema político da França.
No início da Revolução Francesa, virou tenente-coronel da Guarda Nacional Corsa (1791). Em 1793, já era chefe de artilharia do exército encarregado da tomada de Toulón, sendo promovido a general de brigada aos 24 anos. Em 1796, foi nomeado comandante do exército francês na Itália. Derrotou os austríacos e forçou a assinatura do Tratado de Campoformio, que dava à França o direito de conservar os territórios conquistados na Itália.
Quando Napoleão embarcou para a expedição no Egito, em 1798, era um general de 29 anos com a ambição de um César. Chegou a Alexandria em julho para bloquear a rota britânica até a Ìndia. A expedição francesa tinha 300 navios,35 mil soldados e um departamento de sábios. Isso porque Napoleão queria ganhos científicos: os sábios eram orientados para que tudo encontrado nas tumbas fosse arrolado e estudado.
Napoleão se casou em 1796 com a viúva Josefina de Beauharrais. Separou-se em 1806 e voltou ao altar no ano seguinte com a princesa Maria Luisa, herdeira da dinastia áustríaca dos Habsburgo, que viria a ser mãe de seu único filho, Napoleão II. Ciumento e sexualmente inseguro, colecionou amantes e foi definido como homossexual por uma facção de historiadores. Excêntrico e megalomaníaco, o homem que chegou a ter sob o seu domínio 50 milhões dos 175 milhões de habitantes da Europa rebatizou o Museu do Louvre de Museu Napoleão e mandou retirar a Monalisa de Leonardo da Vinci, do acervo para pendurá-la na parede de seu quarto. As guerras napoleônicas, aliás, contribuíram para o enriquecimento dos museus franceses. O general tinha uma equipe especializada em espoliar coleções e obras-primas. Milhares de quadros de renomados pintores sumiram da Alemanha, da Itália, da Espanha e da Holanda para reaparecer no Louvre.
O Exército do grande general
O grande general aperfeiçoou seu exército, dando-lhe mais coesão, estrutura e confiança. Aumentou o efetivo dos exércitos, criando uma unidade tática mais forte do que a divisão(cerca de 10 mil soldados), o Corpo de Exército, composto por duas a quatro divisões. Da reunião desses copos nasceu o Grande Exércio, subordinado ao comando direto do imperador.
Napoleão reformou o quadro de oficiais trocando os velhos ou incapazes. O corso fundou a escola militar de Saint-Cyr, que formava oficiais bem qualificados para, mais tarde, ingressar nos postos de generais. Napoleão queria jovens - a idade média dos coronéis e generais era de 37 anos.
A vida do soldado da infantaria girava em torno de sua seção, que consistia de seis a 12 homens, cada um deles armado com um mosquete Charleville modelo 1777 calibre 69. Os volteadores atacavam o inimigo por trás e os flanqueadores eram responsáveis pelos ataques laterais.
Os homens da cavalaria pesada usavam capacete e armaduras no peito e nas costas.Cada um levava uma pistola e uma lança. A cavalaria leve não usava armadura e carregava espadas. Sua função era fazer o reconhecimento da área e garantia a segurança ao redor do exército. Napoleão levava para a batalha entre 1,2 e 1,8 mil homens montados. O volume de soldados a cavalo intimidava os inimigos.
Os artilheiros eram grupos de 100 homens armados com seis canhões de campanha e dois morteiros. O próprio imperador lutou durante anos nessa arma antes de assumir o comando das tropas francesas. Na engenharia, Napoleão organizou um grupo responsável pelos explosivos e construções de pontes. O imperador também criou um corpo militar de elite, a Guarda Imperial.
O mérito tático de Napoleão estava na agilidade - chegava antes do inimigo após estudar minuciosamente o terreno em que pisava. Mestre na leitura de mapas, avaliava sua tropa só encarava o combate após planejar todos os passos. Também usava espiões e patrulhas de cavalaria, procurando sempre descobrir com antecendência a tática adversária.
Texto extraido da revista Impérios Modernos da Coleção Grandes vol. III Almanaque Abril
Surge um líder
Napoleão Bonaparte chegou ao poder em 1799, no momento em que a França atravessava uma grave crise institucional. Governado pelo Diretório, o país enfrentava sérios problemas de ordem econômica, política e social e havia sofrido algumas derrotas em campanhas militares no exterior.
A oposição, formada à esquerda pelos jacobinos e à direita pelos realistas (partidários da monarquia),responsabilizava o governo pela situação. Com os ânimos cada vez mais exaltados, a França parecia à beira de uma nova rebelião.
Nesse contexto, começou a ganhar destaque a figura de Napoleão Bonaparte, general de apenas 30 anos de idade que, graças às suas vitórias nos campos de batalha, parecia destinado a ser o "homem forte" tão sonhado pela burguesia, aquele que devolveria a paz e a ordem para a França.
No dia 18 Brumário(9 de novembro de 1799), Napoleão dissolveu o Diretório e criou o Consulado.Este, que consolidou o poder da alta burguesia, tinha no Executivo três cônsules, eleitos pelo Senado. Entretanto, essa aparente democracia mascarava o poder que detinha o primeiro cônsul: Napoleão Bonaparte.
Napoleão sabia que seu governo, para ter continuidade, precisava tanto do apoio da alta como da pequena burguesia francesa. Por isso, preocupava-se em garantir a segurança interna, necessária ao bom andamento dos negócios. Os projetos de emancipação das classes populares foram sufocados. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade dos tempos da revolução foram reprimidos. Por meio de uma severa censura à imprensa e da ação violenta dos òrgãos policiais, as oposições políticas ao governo foram aniquiladas.Mas era preciso conseguir a paz externa e afastar o perigo de uma invasão na França. E essa foi uma das principais preocupações de Napoleão nos seus primeiros anos de governo.
As primeiras campanhas militares do Corso
Napoleão Justificava suas conquistas afirmando estar libertando os povos dos "grilhões" do Antigo Regime. Seu soldado-cidadão estava então propagando os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade para os outros povos da Europa. Aqueles que morriam em sua campanhas estavam dando a vida por um ideal. Muitos não-franceses agreditavam que Bonaparte representava os ideais democráticos, ou seja, era visto como um libertador. Havia, porém, um outro lado. Napoleão, o tirano da Europa, transformou países conquistados em satélites, colocou parentes seus nos tronos e explorou essas terras em favor da França. Os Estados-satélites e os territórios anexados eram obrigados a fornecer recrutas para seus exércitos e impostos para seu tesouro de guerra. Tais métodos alimentaram o ódio a Napoleão.
Os franceses começaram a ser derrotados na Itália por uma coligação de grandes nações. Em 1799, com a saída da Rússia da coligação, o exército revolucionário retornou a iniciativa. Em julho de 1800, Napoleão, já como cônsul e chefe do governo, derrotou os austríacos em Marengo. Em 1801, a Àustria assinou a paz de Luneville, onde eram reafirmados os acordos de Campofórmio, garantindo a hegemonia francesa sobre a Itália. Era o primeiro passo para o estabelecimento da paz na Europa.
Após essa vitória, a Rússia também assinou um tratado de paz com a França, e a Segunda Coligação se desfez. A Inglaterra estava isolada no cenário político europeu, pois tanto a Rússia como a Suécia, a Dinamarca e a Prússia rejeitavam suas propostas de isolar comercialmente a França. Assim, em março de 1802, a Inglaterra e a França assinaram o Tratado de Amiens, pelo qual a Inglaterra reconhecia as conquista francesas. A partir de então, Napoleão pôde se dedicar às reconstrução interna da França.
Napoleão reconstruindo a França
Para garantir a estabilidade econômica, vital ao desenvolvimento dos negócios da burguesia, Napoleão centralizou a administração pública e criou o Banco da França, facilitando o acesso da burguesia aos capitais necessários para seus empreendimentos. Ganhou grande popularidade no interior do país, tomando uma série de medidas para legalizar as propriedades conseguidas pelos camponeses durante o governo jacobino.
Napoleão também se preocupava com a educação popular, pois sabia que odesenvolvimento industrial do país dependia da formação de mão-de-obra especializada. Além disso, achava que a escola era um bom lugar para o controle moral e político da vontade popular. Na mesma linha de raciocinio, conseguiu a elaboração de um acordo (Concordata, em 1801) entre a igreja católica e o Estado francês, tendo como objetivo fazer da religião um instrumento de poder político. O papa reconhecia o confisco das propriedades da igreja em troca do amparo do Estado ao clero. Por sua vez, Napoleão reconhecia o catolicismo como a religião da maioria dos franceses, mas reservava para si o direito de designar os bispos.
Para governar a França, Napoleão usou o plebiscito,ou seja, as suas decisões importantes eram submetidas à apreciação popular pelo voto universal. Esse mecanismo dava-lhe o apoio do homem comum, mas para isso, criou uma forte censura a todos os jornais e uma polícia política destinada a reprimir qualquer oposição a seu governo. Ao mesmo tempo, ganhava popularidade e fidelidade de seus soldados por meio de bem estudada propaganda, especialmente veiculada em jornais militares.
A fim de impressionar a opinião pública, Napoleão construiu grandes obras públicas e modernizou o exército, criando um clima de euforia que beneficiou o desenvolvimento da indústria e do comércio.
Juridicamente, uma de suas maiores obras foi o Código Napoleônico, que refletia os anseios da burguesia francesa: grande parte de seus artigos dizia respeito aos direitos e garantias da propriedade privada. Nesse código a legislação trabalhista constava principalmente de restrições: eram proibidas as associações de empregados, as greves etc. A instituição familiar era também abordada: as leis garantiam o divórcio e submetiam a mulher à autoridade do marido, denominando "a cabeça pensante do casal"
O império: ascensão e queda
Os sucessos do governo de Napoleão entusiamavam as classes dominantes francesas. Como prêmio, em 1802, Napoleão foi proclamado cônsul vitalício, tendo o direito de indicar seu sucessor. Ambicioso de poder, Napoleão mobilizou a opinião pública para a implantação definitiva do império. Em 1804 foi realizado um plebiscito, pelo qual quase 60% dos votantes confirmaramo estabelecimento do regime monárquico e a indicação de Napoleão como imperador. Era o povo dando o cetro do poder ao Napoleão.
Em 1807, colocou à venda os títulos de nobreza, formando, assim, uma nova aristocracia, oriunda da alta burguesia, que passou a deter os mais altos cargos do governo. O exército, reformado e modernizado, era o grande respaldo do governo, e o recrutamento obrigatório tornou-o o maior da Europa, com mais de um milhão de soldados.
Liderada pela Inglaterra, preocupada com a ocupação de Hanôver (Alemanha) por tropas francesas, formou-se a Terceira Coligação (Inglaterra,Àustria, Prússia e Rússia) contra o império francês. Em outubro de 1805, Napoleão tentou invadir a Inglaterra, mas a marinha francesa foi vencida pelos ingleses, comandados pelo almirante Nelson. A derrota francesa deu-se na Batalha de Trafalgar, afirmando o poderio naval britânico.
Recuperando-se da derrota marítima, Napoleão conseguiu sucessivas vitórias terrestres sobre seus inimigos:a Àustria, na batalha de Austerlitz, em 1805, ocupando Viena; a Prússia, em 1806 e ela passou para o sistema de defesa francês. Em julho de 1806 formou-se a Confederação do Reno, extinguindo o Sacro Império com a renúncia de Francisco II ao trono e a submissão do Estado alemão á liderança francesa.Em 1807, formou-se a Quarta Coligação, entre a Rússia, a Prússia e a Saxônia, que queria a dissolução da Confederação do Reno.
O Bloqueio Continental
Mas, ainda inconformado com a derrota para os inglese, Napoleão procurou meios de enfraquecer a Inglaterra. Em 1806, decretou o Bloqueio Continental, proibindo todas as nações européias de comprarem produtos ingleses. Os países ocupados, os protetorados e os aliados da França tiveram de aderir ao bloqueio. Isso beneficiava a burguesia francesa, que, com reservas de mercado no continente, ampliou suas vendad e aumentou seus lucros.
Mas o contrabando de mercadorias para o continente europeu e o crescente comércio com o Novo Mundo permitiram à Grã-Bretanha escapar da ruína econômica, embora sofresse com o embargo. Além disso, o bloqueio castigava países que dependiam de impostos de importações da Inglaterra. A burguesia, que em geral apoiva as reformas de Napoleão, voltou-se contra ele. Além disso, seus esforços para impor o sistema criaram dois problemas: a ocupação da Espanha e a invasão da Rússia.
Os efeitos do Bloqueio Continental se faziam sentir. Em julho de 1807, a Rússia assinou a paz de Tilsit com a França, aderindo ao bloqueio. As indústria inglesas começaram a sentir o efeito da falta de mercado.
Alguns aliados da Inglaterra, como Portugal, por exemplo, tentaram resistir às pressões francesa para que aderissem ao bloqueio. Por essa razão, Napoleão invadiu Portugal, e seu governo teve de fugir para a colônia do Brasil em 1807. A mudança da Coroa portuguesa para o continente americano facilitou as atividades econômicas da Inglaterra, que podia negociar diretamente com o Brasil.
Na Espanha, os nobres e o clero espanhol temiam o liberalismo francês; a população, esmagadoramente campanosa, analfabeta e católica, via Napoleão como um agente do demônio. Fiéis a seu monarca e à igreja, os espanhóis travaram uma "guerra de faca" contra os invasores.
Um exército invisível de guerrilheiros espalhou-se pelo país. De emboscada, destruía comboios e postos fraceses. Aresistência espanhola esgotou o tesouro de Napoleão, além de permitir à Inglaterra ter uma base no continente para invadir o sul da França. Napoleão começou a sentir os primeiros sinais de enfraquecimento e as dificuldades para manter todas as conquistas.
Em 1809, formou-se uma Quinta Coligação, liderada pela Àustria, que, animada pela resistência espanhola, pretendia libertar-se do dominio francês. Essa tentativa resultou em fracasso, pois o poderio do exército francês e do Império Napoleônico atingia seu ponto mais alto. Mas esse apogeu não durou muito.
Enquanto isso na França, o recrutamento obrigatório e as constantes guerras criavam um clima de insatisfação geral. As péssimas colheita de 1811 aliadas ao Bloqueio Continental e à constante vigilância da marinha inglesa geraram falta de alimentos no país. Por outro lado, as indústrias francesas não conseguiram suprir todos os mercados da Europa, impedidos de comerciar com a Inglaterra por causa do bloqueio. A escassez de gênero de consumo ameaçava a estabilidade política dos governos aliados da França.
Internamente, as conspirações aumentavam: alguns realistas fundaram a organização Cavaleiros da Fé para combater o império. Externamente, a Rússia, pressionada pela crise econômica, pois ela exportava para a Inglaterra matérias-primas destinadas à construção naval. Em 1811 o czar Alexandre I rompeu o bloqueio e abriu os portos do país aos navios britânicos. Em represália, Napoleão declarou guerra à Rússia.
Fracasso na Rússia
Em junho de 1812, Napoleão começou a invasão da Rússia. Entre agosto e setembro de 1812, o avanço francês foi tão rápido que as tropas chegaram a tomar Moscou. Em vez de combater os franceses em campo abero, os russos preferiram recuar, atraindo o inimigo para o interior do território. Na retirada, queimavam os lugares por onde as tropas de Napoleão ainda iam passar, destruindo campos cultivados e abrigos.A tática de retirada do general russo Kutuzov, conhecida como de terra arrasada, deixou a tropa inimiga sem abastecimento. Ao mesmo tempo, o rigoroso inverno das estepes russas ajudou a dilacerar o exército napolêonico, que, de um contingente inicial de 600 mil soldados recrutados entre várias nacionalidades - 200 mil animais e 20 mil veículos, viu-se reduzido a 30 mil homens famintos, doentes e sem munição, em novembro de 1812. A Prússia e a Àustria, animadas com a derrota de Napoleão, aliaram-se à Rússia e moveram guerra à França.
Os países ibéricos resistiam crescentemente à presença dos franceses e contava, ainda, com o auxílio inglês. Em março de 1813. Frederico Guilherme III, rei da Prússia, declarou guerra à França, valendo-se das técnicas militares introduzidas por Napoleão e com a adesão da Inglaterra, Suécia e Áustria, conseguiu derrotar as tropas francesas em outubro de 1813.Os soldados prussianos e os aliados perseguiram os franceses até Paris e, em março de 1814, marcharam nas ruas da cidade. Napoleão foi deposto e enviado como prisioneiro para a ilha de Elba,entre a península Itálica e a ilha de Córsega. Os vitoriosos ocuparam a França, restabeleceram a monarquia dos Bourbon e conduziram ao trono Luís XVIII, irmão do rei guilhotinado em 1793.
A Contra-revolução: o Congresso de Viena e a Santa Aliança
Para restaurar a antiga ordem nos países da Europa, pois as conquistas napoleônicas modificaram a divição política de quase toda a Europa Ocidental, era necessário que as coisas voltassem a serem como antes, e, por isso, representantes das grandes potências vencedoras, se reuniram em Viena, Àustria no ano de 1814 1815, cujo objetivo era restabelecer o quilibrio político do continente europeu,ou seja, o"equilibrio de forças entre as grandes potências" Com ele procurava-se evitar a hegemonia de algumas dessas potências.E o outro princípio defendido pelo Congresso foi o da legitimidade, que preconizava a restauração das dinastias destituídas pela Revolução Francesa e por Napoleão e consideradas como legítimas pelo Congresso. Os participantes foram, Àustria, Inglaterra, Rússia, Prússia e também França. Como resultado das decisões tomadas no Congresso o governo da Inglaterra obteve a ilha de Malta(no Mediterrâneo), o Ceilão(atual Sri Lanka, na Àsia) e a Colônia do Cabo (na atual África do Sul); o governo da Rússia anexou a Finlândia e parte da Polônia; a Confederação do Reno foi desfeita para dar lugar à Confederação Germânica, com 39 Estados, entre os quais a Prússia e a Àustria. A península Itálica continuou fragmentada em vários principados e repúblicas; a Bélgica uniu-se à Holanda para formar o Reino dos Países Baixos: a Suécia e a Noruega se fundiram; o Império Turco-Otomano manteve o controle dos povos cristãos do sudeste da Europa; e a França, derrotada, teve de aceitar uma série de imposições: seus limites retornaram a suas antigas fronteiras; pagou uma indenização de 700 milhões de francos aos vencedores; várias fortalezas do país ficaram em mãos de austríacos e prussianos; teve de restaurar a monarquia, cujo trono foi ocupado por Luís XVIII
Talleyrand, diplomata francês, exerceu importante papel durante as negociações. Sem sua participação, a França teria sido ainda mais prejudicada.
O Congresso de Viena encerrou seus trabalhos em 1815. Essa época da história européia ficou conhecida como Período de Restauração, pois o objetivo do Congresso era restaurar as antigas famílias nobres que reinavam no continente antes da Revolução Francesa.
Para impedir qualquer movimento revolucionário que pretendesse questionar a ordem conservadora que se estabelecia na Europa, o imperador da Rússia propôs que se formasse um exército com forças de todas as potências vitoriosas. A Prússia e a Àustria aceitaram imediatamente, seguidas pela Espanha, que tentava, dessa forma, deter o processo de independência de suas colônias. Esse exército recebeu o nome de Santa Aliança,poi, para as forças conservadoras e a igreja, a luta contra a revolução social chegava a ter um caráter sagrado. Apenas a Inglaterra não fez parte dessa aliança, pois estava interessada em incentivar os movimentos de independência da América Latina.
Apesar de toda a repressão montada pela Santa Aliança, os movimentos revolucionários renasceram. Depois de 1820, ocorreram em vários pontos da Europa movimentos de características liberais ligados à burguesia e muitas vezes populares. No entanto, quase todos os movimentos foram, mais cedo ou mais tarde, sufocados. Em dois pontos do mundo, porém, a revolução estava dando certo: na Grécia, que se tornou independente da Turquia, e na América Latina, que estava em plena luta pela independência.
Nenhum país saiu do Congresso suficientemente forte para dominar o continente: nenhuma grande potência estava tão insatisfeita a ponto de recorrer à guerra para desfazer o acordo. O equilibrio do poder não foi pertubado até a unificação da Alemanha. A Europa não viveu outro conflito da magnitude das guerras napoleônicas até a Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Os 100 dias: a breve volta de Napoleão
Em fevereiro de 1815, durante a realização do Congresso de Viena, Napoleão fugiu de Elba, desembarcou na França à frente de um grupo de seguidores e marchou em direção a Paris. Ao aproximar-se das tropas enviadas por Luís XVIII,ordenou aos seus soldados para deter seu avanço, caminhou até elas e desafiou:"se há entre vocês um soldado que deseja matar seu imperador, eis-me aqui". As tropas gritaram "Viva o imperador!" e juntaram-se a ele, e entrou em Paris e foi recebido como herói. Bonaparte retomou o poder.
O novo governo do imperador, porém, duraria pouco menos de cem dias. Nesse período, Napoleão teve de enfrentar nova guerra contra os governos da Inglaterra, Prússia, Àustria e Rússia. Não foi bem-sucedido. Em junho de 1815 suas tropas foram derrotadas pelo exército inimigo, na batalha de Waterloo, na Bélgica.
Afastado do poder, Bonaparte foi enviado para Santa Helena, pequena ilha no Atlântico. Ali permaneceria até sua morte, em 1821. Na França, Luís XVIII foi reconduzido ao trono.
Para refletir
Coroação de Napoleão: A formação de uma nova corte
Em 2 de dezembro de 1804, Napoleão Bonaparte organizou uma festa solene para sua coroação como imperador. O papa Pio VII viajou especialmente a Paris para coroar NapoleãoI, na catedral de Notre Dame.
No auge da cerimômia, Napoleão teve um gesto surprendente, arrogante e indelicado. Retirou das mãos do papa a coroa que seria levada à sua cabeça para, ele próprio, se coroar. Não admitia autoridade superior a si mesmo. Em seguida, coroou sua esposa, a imperatriz, Josefina.
Depois, Napoleão conferiu títulos de nobreza a seus familiares, nomeando-os para os mais altos cargos do império. Formou-se uma nova corte com os membros da elite militar, alta burguesia e antiga nobreza. Como símbolo do poder do império napoleônico, construíram-se grandes obras como o Arco do Triunfo (inspirado na arquitetura clássica romana).
Texto de Gilberto Cotrim
Sinfonia para um general
O Compositor Ludwig Van Beethoven (1770-1827), nascido no Sacro Império Romano-Germânico, admirador das idéias de liberdade, autonomia do indivíduo e transformação radical, defendidas na Revolução Francesa, ele pensou em dedicar sua famosa Terceira Sinfonia, conhecida como Heróica a Napoleão Bonaparte, que, para Beethoven, encarnava os ideais da Revolução.
Em 1804, porém, ao saber que Napoleão se autoproclamara imperador, rasgou a antiga dedicatória e a substituiu por uma simples referência: "à memória de um grande homem".
As composições de Beethoven são profundamente intelectualizadas, mas também cheias de drama humano, impulsos heróicos e luta titânica contra as circunstâncias. Depois de uma certa idade ele ficou completamente surdo, o que não o impediu de continuar criando obras-primas. Desprezava os nobres e gostava de dizer "Nenhum decreto de rei é capaz de criar um grande artista".
O Código Napoleônico "pela burguesia e para a burguesia"
Inspirado no Direito Romano, o código civil francês foi elaborado entre 1804 e 1810 para conciliar a legislação com os princípios da Revolução Francesa de liberdade, fraternidade e igualdade.Ficou conhecido como Código Napoleônico. Esse conjunto de leis consolidou as grandes conquistas burguesas da Revolução e consagrou o fimdo feudalismo: garantiu o direito de propriedade, proíbiu a organização de sindicatos de trabalhadores, mas permitia a criação de associação de empregadores. Numa disputa judicial envolvendo discussão salarial, por exemplo, o Código determinava que o depoimento do patrão, e não o do empregado, fosse levado em conta. Assegurou a igualdade de todos perante a lei, mas restabeleceu a escravidão nas colônias francesas.
De um total de quase 2 mil artigos, apenas sete tratavam do trabalho, enquanto cerca de oitocentos abordavam a questão da propriedade privada. Ele também reforçava a autoridade de maridos e pais sobre esposas e filhos. Ele reforça a idéia de que para o burguês a mulher fazia parte de sua propriedade tal como o dinheiro, um prédio. O Código Napoleônico foi adotado em grande parte da Europa e em alguns estados norte-americanos.