A elite mineira passou a ser educada na Europa, e jovens trouxeram para a colônia influências de correntes intelectuais estrangeiras, criando, no novo ambiente urbano, uma forte explosão cultural. Seu resultado foi o Barroco, um movimento artístico cujas produções locais traziam características próprias, além das presentes nos modelos europeus.
Os Doze Profetas de Aleijadinho, em frente ao templo do Bom Jesus em Congonhas (MG). Fonte: daninha.expressora.com |
O termo barroco faz referência tanto um estilo artístico, musical ou literário quanto um período entre o fim do século XVI e o início do século XVII. Surgido na Europa, opunha-se à estética clássica do Renascimento. Quando chegou ao Brasil, entretanto, o barroco ganhou características particulares.
Foi em Minas Gerais que a construção das igrejas e sua decoração (pinturas e esculturas) incentivaram o surgimento de um grupo numeroso de artistas cuja obra ficou conhecida como barroco mineiro, para caracterizar as diferenças em relação ao barroco litorâneo, dos séculos anteriores, e que era a transposição do estilo europeu para a colônia. Em Minas, houve diferenças substanciais. Em vez de usar o mármore, usaram-se matérias-primas da região: a pedra-sabão e o cedro. O fato de muitos pintores serem mulatos possibilitou o surgimento de imagens nos tetos e nas paredes das igrejas em que Maria e os ajos são representados como mulatos.
Arte e religião
A arte barroca é uma forma de expressão densa, rebuscada, detalhada, fortemente impactante já à primeira vista. De forte teor católico, essa arte seria também uma maneira de a sociedade que a produzia mostrar publicamente suas desigualdades, exibí-las como aspectos naturalizados, não necessariamente como atributos negativos. Ao contemplar uma expressão artística barroca, o membro dessa sociedade aprenderia a respeitar esse modo de vida.
A própria prática pública da fé católica nas Minas Gerais do século XVIII é prova disso: nas missas e cerimonias realizadas dentro das igrejas, as pessoas agrupavam-se de acordo com sua posição social, estando os lugares mais próximos do altar reservados aos estratos mais altos. Quando as cerimonias ou festas religiosas ocorriam nas ruas, as mesmas hierarquia eram mantidas, com os lugares da audiência e do próprio desfile ordenados segundo as posições sociais. Havia igrejas- e isso em todo o Brasil- reservadas aos escravos e seus descendentes, menos suntuosas, e igrejas frequentadas pelos estratos mais ricos da população, luxuosamente decoradas e ornamentadas com ouro.
O texto Arte e religião foi extraído do livro de Ensino Médio Conexôes com a História de Alexandre Alves e Letícia F. de Oliveira, São Paulo: ed. Moderna, 2010, pg.84.
Na região mineira, as Irmandades desempenharam papel de relevo na vida social e cultural. Sua atuação deu-se ao fato de a Coroa ter proibido o estabelecimento de ordens religiosas na região. Temia-se que fosse feito contrabando. A vida religiosa dependia muito das Irmandades, sociedades formadas por leigos que atuavam nos assuntos que diziam respeito à religião, além de fornecerem ajuda aos seus membros, providenciando assistência para as viúvas, funerais, construção de igrejas.
Elas necessitavam de licença real para funcionar e eram controladas pelo governo. Já existiam desde os séculos anteriores, mas foi em Minas Gerais que mais se destacaram. Apresentaram, nessa região, um caráter étnico bem definido: havia as Irmandades dos brancos (Santíssimo Carmo e São Francisco) e as de negros e mulatos (Mercês, Rosário, Amparo, Purificação e Remédios).
Junto a propagação dessas Irmandades, multiplicaram-se a construção de igrejas nas cidades mineiras, pois, cada uma queria ter sua própria construção,e ao lado da qual se instalava o cemitério.
Um dos principais artistas do Barroco mineiro foi António Francisco de Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Com o auxílio de seus aprendizes, ele executou belíssimas obras de arte, como as esculturas em pedra-sabão.
Na região mineira, as Irmandades desempenharam papel de relevo na vida social e cultural. Sua atuação deu-se ao fato de a Coroa ter proibido o estabelecimento de ordens religiosas na região. Temia-se que fosse feito contrabando. A vida religiosa dependia muito das Irmandades, sociedades formadas por leigos que atuavam nos assuntos que diziam respeito à religião, além de fornecerem ajuda aos seus membros, providenciando assistência para as viúvas, funerais, construção de igrejas.
Elas necessitavam de licença real para funcionar e eram controladas pelo governo. Já existiam desde os séculos anteriores, mas foi em Minas Gerais que mais se destacaram. Apresentaram, nessa região, um caráter étnico bem definido: havia as Irmandades dos brancos (Santíssimo Carmo e São Francisco) e as de negros e mulatos (Mercês, Rosário, Amparo, Purificação e Remédios).
Junto a propagação dessas Irmandades, multiplicaram-se a construção de igrejas nas cidades mineiras, pois, cada uma queria ter sua própria construção,e ao lado da qual se instalava o cemitério.
Um dos principais artistas do Barroco mineiro foi António Francisco de Lisboa, conhecido como Aleijadinho. Com o auxílio de seus aprendizes, ele executou belíssimas obras de arte, como as esculturas em pedra-sabão.
António Francisco de Lisboa era filho bastardo de um arquiteto português, Manuel Francisco Lisboa com a escrava de nome Isabel, que teria nascido na África (embora não tenha documentação comprovando). Era portanto um mestiço. A data oficial de seu nascimento é 29 de Agosto de 1730 e falecido em 1814. Seus mestres foram seu pai e o tio António Francisco Pombal. Alguns dizem que foi aluno da escola do desenhista João Gomes Batista e à do entalhador José Coelho de Noronha, portugueses com "oficinas" em Vila Rica. Inspirou-se nos livros da biblioteca do poeta Cláudio Mauel da Costa e "gravuras biblicas góticas e bizantinas" da Bíblia Pauperum. Foi a partir de 1777 que passa a ser acometido da misteriosa doença. Aleijadinho foi vitima de uma doença que lhe consumia os dedos dos pés e das mãos. Foi escultor, entalhador e arquiteto. Seu primeiro projeto foi a igreja da Ordem Terceira de São Francisco de Vila Rica..
O escritor Eduardo Bueno no livro Brasil: Uma História, cita Traços biográficos relativos ao finado António Francisco de Lisboa escrito em 1858, 44 anos depois da morte do artista. Alejadinho além de grande talento era também "grandemente dado aos vinhos, às mulheres e aos foguedos". Seu biógrafo sugere que a enfermidade surgiu dos "excessos venéreos".Em fins de 1777, o escultor já perdera os dedos dos pés, "do que resultou não poder andar senão de joelhos", e os dedos das mãos se atrofiaram de tal forma que o artista teria decidido "cortá-los, servindo-se do formão com que trabalhava". Não foi só: Alejadinho "perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se como sucede ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se e o olhar do infeliz adquiriu a expressão sinistra de ferocidade (...) que o deixou de um aspecto asqueroso e medonho".
Ainda coloca Bueno "Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de madrugada e só voltava para casa com a noite alta. "Ia sempre a cavalo, embuçado em ampla capa, chapéu desabafado, fugindo a encontros e saudações", escreveu o poeta Manuel Bandeira. "No próprio sítio da obra, ficava a coberta de uma espécie de tenda, e não gostava de mirones".
Aleijadinho levou 10 anos na obra os Passos da Paixão (66 estátuas de cedro representando a paixão de Cristo) e os 12 profetas, todas em pedra-sabão. . Essa obras-primas do barroca teriam sido esculpidas com os formôes atados às mãos sem dedos do artistas, com a ajuda de seus auxiliares e de seus três escravos .
Cláudio Manuel da Costa
O poeta Cláudio Manuel da Costa foi um dos que mais sofreram com as relações entre política, hierarquia social, cultura e religião nas minas. Natural de Mariana, nascido em 1729 em uma família de proprietários, estudou no colégio dos jesuítas, no Rio, e leis em Coimbra, e em 1754 retornou ao Brasil para seguir a carreira de magistrado. Advogado, minerador e fazendeiro de gado bovino e suino, senhor de muitos escravos, logo se tornou um dos homens mais ricos de Minas. Membro da Ordem de Cristo, rico, influente, solteiro, dono de uma bela mansão, era figura respeitada e popular, que costumava reunir amigos e intelectuais em movimentados saraus.
Consciente de que seu sucesso na carreira e sua posição social dependeriam de sua relação com o poder político , sempre tratou de colocar seus talentos literários a serviço de governantes e poderosos, o que não o impediu de produzir uma literatura de altíssimo nível, em que estão contidos seus sofrimentos individuais, suas inquietações em relação ao seu tempo, e sua visão de mundo. É autor de Minúsculo métrico (1751), Epicédio (1753), Vila Rica (1839) e Obras poéticas (1768).
"Já me enfado de ouvir este alarido,
Como que se engana o mundo em seu cuidado;
Quero ver entre as peles, e o cajado,
Se melhora a fortuna de partido.
Aquele adore as roupas de alto preço,
Um siga a ostentação, outro a vaidade;
Todos se enganam com igual excesso.
Eu não chamo a isto já felicidade:
Ao campo me recolho, e reconheço,
Que não há maior bem, que a soledade."
Tomás Antônio Gonzaga
Foi discípulo de Cláudio Manuel da Costa e ambos constituíam o centro de um grupo que reunia pessoas importantes de Vila Rica, incluindo padres, políticos, intelectuais e membros de sociedades secretas e irmandades leigas.
Escreveu Marília de Dirceu, durante sua prisão no Rio, em 1789. Marília de Dirceu é um dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa. Foi dedicada à jovem Maria Doroteia de Seixas Brandão, de 16 anos, por quem o poeta, de 43 anos, apaixonou-se e com quem iria casar se não tivesse sido preso. Enviado para dez anos de degredo na África, em 1792, Tomás Antônio Gonzaga nunca mais veria sua amada. Mas parece não ter sofrido muito com a ausência dela: casou-se com Juliana de Souza Mascarenhas., muito rica e de poucas letras, pertencente a família de Moçambique, que fez fortuna com o tráfico de escravos, ao qual o próprio poeta passou a fazer parte, aumentando sua riqueza. Viveu em Moçambique até sua morte em 1810.
O escritor Eduardo Bueno no livro Brasil: Uma História, cita Traços biográficos relativos ao finado António Francisco de Lisboa escrito em 1858, 44 anos depois da morte do artista. Alejadinho além de grande talento era também "grandemente dado aos vinhos, às mulheres e aos foguedos". Seu biógrafo sugere que a enfermidade surgiu dos "excessos venéreos".Em fins de 1777, o escultor já perdera os dedos dos pés, "do que resultou não poder andar senão de joelhos", e os dedos das mãos se atrofiaram de tal forma que o artista teria decidido "cortá-los, servindo-se do formão com que trabalhava". Não foi só: Alejadinho "perdeu quase todos os dentes e a boca entortou-se como sucede ao estuporado; o queixo e o lábio inferior abateram-se e o olhar do infeliz adquiriu a expressão sinistra de ferocidade (...) que o deixou de um aspecto asqueroso e medonho".
Ainda coloca Bueno "Aleijadinho passou a evitar o contato público: ia para o trabalho de madrugada e só voltava para casa com a noite alta. "Ia sempre a cavalo, embuçado em ampla capa, chapéu desabafado, fugindo a encontros e saudações", escreveu o poeta Manuel Bandeira. "No próprio sítio da obra, ficava a coberta de uma espécie de tenda, e não gostava de mirones".
Aleijadinho levou 10 anos na obra os Passos da Paixão (66 estátuas de cedro representando a paixão de Cristo) e os 12 profetas, todas em pedra-sabão. . Essa obras-primas do barroca teriam sido esculpidas com os formôes atados às mãos sem dedos do artistas, com a ajuda de seus auxiliares e de seus três escravos .
Cláudio Manuel da Costa
O poeta Cláudio Manuel da Costa foi um dos que mais sofreram com as relações entre política, hierarquia social, cultura e religião nas minas. Natural de Mariana, nascido em 1729 em uma família de proprietários, estudou no colégio dos jesuítas, no Rio, e leis em Coimbra, e em 1754 retornou ao Brasil para seguir a carreira de magistrado. Advogado, minerador e fazendeiro de gado bovino e suino, senhor de muitos escravos, logo se tornou um dos homens mais ricos de Minas. Membro da Ordem de Cristo, rico, influente, solteiro, dono de uma bela mansão, era figura respeitada e popular, que costumava reunir amigos e intelectuais em movimentados saraus.
Consciente de que seu sucesso na carreira e sua posição social dependeriam de sua relação com o poder político , sempre tratou de colocar seus talentos literários a serviço de governantes e poderosos, o que não o impediu de produzir uma literatura de altíssimo nível, em que estão contidos seus sofrimentos individuais, suas inquietações em relação ao seu tempo, e sua visão de mundo. É autor de Minúsculo métrico (1751), Epicédio (1753), Vila Rica (1839) e Obras poéticas (1768).
"Já me enfado de ouvir este alarido,
Como que se engana o mundo em seu cuidado;
Quero ver entre as peles, e o cajado,
Se melhora a fortuna de partido.
Aquele adore as roupas de alto preço,
Um siga a ostentação, outro a vaidade;
Todos se enganam com igual excesso.
Eu não chamo a isto já felicidade:
Ao campo me recolho, e reconheço,
Que não há maior bem, que a soledade."
Tomás Antônio Gonzaga
Foi discípulo de Cláudio Manuel da Costa e ambos constituíam o centro de um grupo que reunia pessoas importantes de Vila Rica, incluindo padres, políticos, intelectuais e membros de sociedades secretas e irmandades leigas.
Escreveu Marília de Dirceu, durante sua prisão no Rio, em 1789. Marília de Dirceu é um dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa. Foi dedicada à jovem Maria Doroteia de Seixas Brandão, de 16 anos, por quem o poeta, de 43 anos, apaixonou-se e com quem iria casar se não tivesse sido preso. Enviado para dez anos de degredo na África, em 1792, Tomás Antônio Gonzaga nunca mais veria sua amada. Mas parece não ter sofrido muito com a ausência dela: casou-se com Juliana de Souza Mascarenhas., muito rica e de poucas letras, pertencente a família de Moçambique, que fez fortuna com o tráfico de escravos, ao qual o próprio poeta passou a fazer parte, aumentando sua riqueza. Viveu em Moçambique até sua morte em 1810.