Revolução Industrial
A pós séculos de predomínio do espaço rural e agrícola sobre as cidades e as atividades artesanais, o Ocidente presenciou o surgimento da indústria moderna. A busca de novas tecnologias, o desenvolvimento de novas formas de organização do trabalho, a intensa utilização do trabalhador assalariado e o controle do capital sobre a produção concretizaram a máxima "tempo é dinheiro", acelerando o ritmo de vida das sociedades erupéias e, posteriormente, de todo o mundo.
O Caminho Percorrido
A Revolução Industrial foi o resultado de um longo processo que teve início na Baixa Idade Média, com o aparecimento das corporações de ofício e o renascimento das cidades e do comércio na Europa Ocidental. A partir desse momento, ganharam importância cada vez mais as noções de lucro e de produtividade, fundamentais para o desenvolvimento de uma mentalidade voltada para o enriquecimento e para a acumulação: a mentalidade empresarial capitalista.
Com as Grandes Navegações, entre os séculos XV e XVI, as atividades econômicas se expandiram. Controlando vastos territórios em quase todo o mundo, os europeus passaram a explorar o comércio em proporções mundiais, levando para o seu continente riquezas que seriam aplicadas na fabricação de produtos destinados a alimentar um mercado cada vez maior.
As próprias formas de produção de mercadorias na Europa acabaram por se transformar. Para atender à demanda crescente, surgiram métodos mais eficientes de produzir. Com isso, as antigas corporações de ofício foram substituídas pela produção manufatureira, dirigida por um comerciante que controlava a produção de vários artesãos reunidos num mesmo local para trabalhar: assim surgiram as fábricas ou o sistema fábril. Estes operários trabalhavam por encomenda, com a matéria-prima e as ferramentas necessárias cedidas pelo comerciante,e, como forma de pagamento recebiam um salário. A fabricação de cada mercadoria passou a ser dividida em várias etapas, num processo cohecido como produção em série. Concentrado em uma única atividade, o trabalhador especializava-se e aumentava a produção.Com o aumento da produção de mercadorias com meios mais baratos, era possível aumentar a margem de lucro e o mercado consumidor.
Com a introdução das fábricas os instrumentos de produção deixaram de ser simples ferramentas auxiliares do trabalho e passaram a realizar múltiplas tarefas, das quais antes só o trabalho manual era capaz. Por isso a "marca registrada" da Revolução Industrial foi a máquina-ferramenta: um mecanismo que aciona um conjunto de ferramentas movidas mecanicamente, necessárias para a transformação da matéria-prima.
A introdução de máquinas a vapor nas unidades fabris, selou a passagem da produção artesanal domiciliar para a produção em grande escala,noentanto, esse processo significou para o trabalhador a perda gradual do controle de suas atividades. Na época das corporações de ofício, ele era dono de suas ferramentas e senhor de seu ritmo de trabalho . Na manufatura, sem suas ferramentas e matérias-primas, tornou-se dependente do comerciante, mas ainda exercia o controle sobre seu trabalho. No sistema fabril, esse controle passou a ser feito por técnicos, sob o comando dos empresários. A atividade do trabalhador tornou-se apenas uma parcela da produção geral, e ele perdeu o domínio sobre o produto final de seu trabalho.
Bases para o surgimento da Revolução Industrial
A. O crescimento demográfico,devido as melhorias das condições de higiene e alimentação; e avanço científico e progressos da medicina. Como consequências teve o aumento da necessidade de produtos e serviços.
B. A acumulação de capital: a burguesia ao longo do período de "transição", na chamada acumulação primitiva, graças principalmente a exploração colonial.
C. A invenção de máquinas, substituindo as ferramentas pessoais dos artesões.
D. Existência de Matérias-Primas: Algodão, carvão.
E. Mão-de-obra disponível: o sistema de fábrica exige um trabalhador despojado, um homem sem condições de garantir sua subsistência, pronto a aceitar a disciplina do trabalho fabril. Esse trabalhador foi "produzido" pela expropriação.
F. Mercados Consumidores: não apenas para o início da industrialização, mas para a própria reprodução dos sistemas, uma vez que a maquinofatura inverte a relação até então existente. Antes, produzia-se de acordo com o mercado, agora, o mercado é criado de acordo com a produção.
A Revolução Industrial e a Inglaterra
A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. Durante o século XIX, estendeu-se para outros países da Europa, para os Estados Unidos e o Japão.
Os principais fatores que determinaram o pioneirismo inglês foram:
A. A burguesia inglesa acumulou capital a partir do comércio marítimo; e, a Inglaterra tinha a mais importante Zona de Livre Comércio da Europa e um sistema de crédito financeiros bem desenvolvido, desde a fundação do Banco da Inglaterra, em 1694.
B. Disponibilidade de Capitais: durante o período da revolução comercial, a Inglaterra acumulou mais capital que as outras nações, graças ao monopólio que seus comerciantes detinham sobre o tráfico de escravos. Também contribuiu a expansão comercial de seus produtos de lã e pela rendosa atividade da pirataria que faziam aos galeões espanhóis.
C. Disponibilidade de Mão-de-Obra: Nos séculos XVI e XVII os nobres ingleses expulsaram os camponeses de suas terras e se apossaram delas (política de cercamento = enclosures). O principal motivo para essa expulsão foi a demanda por lã para abastecer a produção de tecidos, sobretudo de fábricas localizadas nos Países Baixos. Para atender a essa demanda, passam a utilizar a terra para a criação de ovelhas. Sem terra para trabalhar, os camponeses tiveram de procurar outras atividades nos emergentes centros urbanos, ou seja, tornaram-se mão-de-obra abundante para as fábricas.
D. Supremacia Naval: Os Atos de Navegação de 1651 (Cronwell) conferiram à Inglaterra o domínio do transporte marítimo e, consequentemente, do comércio mundial. Além disso, possuía muitas colônias que eram, ao mesmo tempo, um mercado consumidor de produtos industrializados e uma fonte fornecedora de matérias-primas.
E. A Contribuição dos Huguenotes: Calvinistas franceses que além de capitais, possuiam experiências empresarial; e uma mentalidade religiosa dos puritanos (calvinistas ingleses) que valorizava o enriquecimento e o trabalho.
F. A Ideologia Liberal: O triunfo do liberalismo criou na Inglaterra um ambiente propício à industrialização. O liberalismo criticava o mercantilismo e defendia a livre concorrência.
Consequências e Resultados da Revolução Industrial:
Sociais:
A. O Surgimento de novas classes sociais:
Os capitalistas: os donos do capital e dos meios de produção que vivem da exploração do trabalho do proletariado.
Os proletários: força de trabalho assalariada que vivem na dependência dos capitalistas. B. Universalização do trabalho livre e assalariado.
C. Explosão demográfica e crescente urbanização. Ampliação da oportunidade de educação, resultante da elevação do nível de vida da população.
D. Êxodo Rural que resultou do aparecimento das fábricas que vão centralizar a oferta de trabalho.
E. A ascenção econômica, social e política da burguesia.
F. Crescimento das cidades, de maneira desordenada e confusa, criando poblemas urbanos: falta de condições e de água; favelas e inundações. G.Organização de grupos profissionais em sindicatos, com a finalidade de defender seus interesses coletivos.
H. Aumento da população mundial em decorrência de maiores recursos materiais, como: assistência médica, melhor alimentação.
Econômicas:
a. Substituição do trabalho nas oficinas (artesanato) pelo trabalho nas fábricas. (manufatura e maquinofatura).
b. A fábrica empregando capitais acelera o giro e, consequentemente, as mercadorias passam a ser fabricadas em grande quantidade (produção em série).
As trocas são feitas através do mercado, criando assim condições para o desenvolvimento de uma economia monetária em que o crédito e os bancos desempenham um papel preponderante.c. Imperialismo Econômico: domínio de uma nação sobre as outras. È a necessidade de conquistar mercados cada vez maiores e poderosos, sejam eles territórios de colonização ou países independentes, sobre os quais precisam vender o que produzem e não hesitam em impor condições aos seus compradores de países não industrializados.
d. Aparecimento do capitalismo industrial e, posteriormente, do capitalismo monopolista e financeiro (fusão do capital industrial com o capital bancário).
e. Articulação econômica entre os países industrializados e as regiões menos desenvolvidas, conhecida como Divisão Internacional do Trabalho.
f. Formação de grandes conglomerados econômicos:TRUSTE- Associação financeira que surge quando as grandes empresas absorvem as pequenas, monopolizando a produção.CARTEL - Acordo entre as grandes empresas, que procuram suprimir a livre concorrência organizando-se para determinar os preços e a divição de mercados.HOLDINGS - Empresa que investe em diversos ramos econômicos, comprando ações, mantendo-se a autonomia de cada empresa.
Trecho do livro Civilização Ocidental Uma História Concisa, de Marvin Perry, pgs.361,2.
SITUAÇÃO DO PROLETARIADO
"A vida não era fácil para aqueles cujo trabalho contribuiu para o processo de industrialização. Geralmente, os operários eram trabalhadores agrícola recém-chegados, que haviam sido expulsos da terra. Muitas vezes mudavam-se para a cidade sem suas famílias, que deixavam para trás até que pudessem sustentá-las no novo lugar. Essas pessoas rapidamente ingressavam nas indústrias em crescimento, onde muitas horas de trabalho -às vezes quinze por dia - não eram incomuns.(...)o ritmo das máquinas, a rotina enfadonha e as perigosas condições das fábricas e minas tornavam o trabalho ainda mais opressivo. Os mineiros, por exemplo, trabalhavam sob a ameaça de desmoranamentos, explosões e emanações de gases letais. Bem abaixo da superfície do solo, a vida era escura, fria, úmida e débil. Com os corpos mirrados e os pulmões arruinados, os mineiros labutavam a vida inteira "nos burracos".(...)Os operários trabalhavam arduamente por muitas horas, eram multados quando cometiam erros e até por acidentes, eram demitidos segundo a vontado do empregador ou do capataz e sofriam com a falta de segurança no trabalho. Moravam geralmente em habitações superlotadas e sujas. Se não eram casados ou tinham deixado sua família no campo, viviam em barracões com outros membros do mesmo sexo. Se perdiam o emprego, também perdiam o abrigo.
(...)Nas cidades, porém, os operários trabalhavam em fábricas com 20 a 100 trabalhadores e tinham pouco contato com seus patrões. Em vez disso, o capataz os obrigava a trabalhar duro e com afinco por muitas horas, para manter as máquinas em funcionamento. Nesse ambiente, sobrava pouco tempo para a socialização com os demais operários; eram multados por conversar uns com os outros, por atrasos e por várias outras pequenas infrações. Normalmente, competiam entre si a fim de assegurar seus empregos. Faltando-lhes organização, senso de camaradagem, educação e experiencia com a vida urbana, os operáios não tinham com quem contar nas épocas difícieis.
A vida dos trabalhadores muitas vezes giravam em torno de bares(...), onde se entregavam a bebidas e jogos e aos boatos e novidades do dia. Aos domingos, seu único dia de folga, se embebedavam e dançavam; as faltas ao trabalho eram tantas nas segundas-feiras que esse dia passou a ser chamado de "segunda-feira santa".
Trecho do livro Civilização Ocidental Uma História Concisa, de Marvin Perry, pgs.361,2.
Trabalho Feminino e Infantil na Revolução Industrial Inglesa
Os salários nas fábricas eram tão reduzidos que, para sobreviver, toda a família do operário, incluindo mulheres e crianças, era obrigada a trabalhar nas fábricas. Algumas galerias nas minas inglesas não mediam mais do que 45 centímetros de altura. Para explorar o carvão nesses cubículos, seus proprietários empregavam mulheres pequenas e crianças de até doze anos. Nas passagens mais estreitas, os pequenos eram obirgados a arrastar-se. As mulheres puxavam os carros cheios de carvão até a saída das minas, presos à cintura por uma tira de couro. O ar faltava e o calor era insuportável. Se a mortalidade era alta entre os mineiros, era ainda maior entre as crianças, mas eram raras as pessoas que se importavam com isso. Mulheres e crianças operárias recebiam salários inferiores àqueles pagos aos homens adultos.