sábado, 13 de março de 2010

EXPANSÃO MARÍTIMO-COMERCIAL







A expansão marítimo-comercial compreende o período das grandes viagens empreendidas pelos países europeus nos séculos XV e XVI em busca de riquezas além-mar. Inseridas no contexto do desenvolvimento do mercantilismo, elas resultaram numa importante revolução comercial e na formação de vastos impérios coloniais.
Alguns motivos para as navegações


Era necessário quebrar o monopólio árabe-italiano no comércio de especiarias(cravo, canela, pimenta, noz-moscada, gengibre) e de artigos de luxo ( porcelana, tecidos de seda, marfim, perfumes). Até então, os mercadores de cidades como Gênova e Veneza controlavam a entrada de todos os produtos vindos do Oriente ( Ásia e África). Era preciso encontrar outras rotas que evitasse o mar Mediterrâneo.


  • A grande crise dos séculos XIV e XV: A Guerra dos Cem Anos entre França e Inglaterra marcou toda a Europa, comprometendo as rotas comerciais terrestres que cruzavam a França. E, por sua vez a peste negra trouxe uma forte retração nas atividades comerciais, uma vez que dizimou a população. E, também para completar veio uma grande fome sob a população, devido a falta de alimentos. Era necessário conquistar novos mercados, fora da Europa, que fornecessem alimentos e também matéria-prima para incrementar as atividades econômicas.


  • Novos mercados para o artesanato e as manufaturas urbanas precisavam ganhar novos consumidores. Do contrário, permaneceriam estagnados, atendendo apenas às modestas necessidades de consumo das populações locais.
  • A Europa vivia um momento de esgotamento das minas de metais preciosos, o que bloqueava o comércio e provocava uma verdadeira sede de ouro. Era necessário descobrir jazidas de metais preciosos em outras regiões do mundo.
  • Foram os Estados nacionasi, já fortalecidos que impulsionaram a expansão marítima. O rei estaria assim, aumentando seus poderes, a nobreza manteria seus privilégios e a burguesia, aumentaria seus lucros.
  • Propagação da fé cristã.
  • Evolução tecnológica apropriada: navios, mapas, instrumentos de navegação ( bússola, do astrolábio e do quadrante, a caravela), a aceitação do conceito de que a Terra é redonda, etc.

A navegação marítima



No século XV, como não se conhecia o tamanho e a forma exata do planeta, quase todos tinham medo das longas viagens marítimas, principalmente pelo oceano Atlântico, conhecido como "Mar Tenebroso". Além disso, fantasias e lendas criavam um clima de insegurança entre os marinheiros.

Entretanto, a possibilidade de enriquecimento e de viver em melhores condições fazia com que muitos participassem das grandes viagens, mesmo temendo o mar. O tempo e a experiência marítima foram mostrando que muitos medos era justificados (tempestades ou naufrágios) e outros eram imaginários ( monstros marinhos e abismos, por exemplo).

A vida dos marinheiros nos navios não era fácil. Os alojamentos da tripulação eram imundos, rústicos e apertados, e as viagens, longas e desconfortáveis. Muitos morriam de escorbuto, devido à escassez de legumes e verduras (fontes de vitaminas C) na alimentação.

Contudo, diversas inovações técnicas colaboraram para o desenvolvimento da navegação marítima de longa distância, como a caravela, a cartografia e a bússola. A caravela foi a principal embarcação marítima utilizada pelos portugueses, era um navio de estrutura leve movido pelo vento; sua principal característica era a vela de formato triangular (latina), que podia ser ajustada em várias direções para captar a força do vento. Assim, qualquer que fosse o sentido do vento, a caravela podia navegar na direção desejada pelo piloto. Com as viagens marítimas, a cartografia(elaboração de mapas) teve significativo desenvolvimento. A partir do século XV, surgiram mapas com os primeiros registros das terras descobertas na África e na América. Esses mapas eram considerados verdadeiros segredos de Estadi, mas as informações circulavam quando o navegador de um país passava a servir a outro.

Outro instrumento de orientação espacial introduzido na navegação européia desse período foi a bússola, cuja invençaõ é atribuída aos antigos chineses. Foram, porém, os árabes que a levaram para a Europa, onde começou a ser utilizada pelos navegadores.

Trecho do livros História Global de Gilberto Cotrim

Expansão portuguesa

Com a unificação como monarquia nacional desde 1385, quando João I venceu a disputa com o reino de Catela e assumiu o trono do país na Revolução de Avis, Portugal foi a primeira nação européia a lançar-se ao oceano Atlântico. Além do governo forte, outros fatores que explicam a primazia portuguesa são a posição geográfica favorável, a situação de paz interna (ao contrário da França e da Inglaterra, envolvidas na Guerra dos Cem Anos), a determinação de disseminar a fé cristã e a avançada tecnologia náutica, cujos estudos - que resultaram na invenção da caravela- se concentravam na célebre Escola de Sagres.

Principais fases da expansão portuguesa

  1. A conquista de Ceuta

Dominada por árabes, Ceuta era um rico centro de negócios e militar situado no norte da África, onde se vendiam e compravam sedas, marfim, cera, mel, ouro e escravos. Entretanto, a conquista portuguesa deu-se de forma tão violenta e destrutiva que os comerciantes árabes afastaram-se da cidade. Depois de saqueada pelos portugueses, Ceuta perdeu seu brilho como centro comercial.

  1. A chegada de Vasco da Gama às Índias

O sonho dos portugueses era: chegar às Índias contornando a costa do continente africano (périplo africano). Para isso, os portugueses foram, pouco a pouco, avançando pela costa africana e estabelecendo feitorias (postos comerciais, onde obtinham ouro, sal, marfim, pimenta e escravos) pelo litoral. Finalmente, em 1498, Vasco da Gama chegou às Índias (Calicute), realizan0do o sonho dos portugueses.

Ampliam-se os horizontes para Portugal

  1. 1415 : Conquista de Ceuta.
  2. 1434 : Gil Eanes ultrapassa o cabo Bojador, considerado um temido obstáculo pelos portugueses.
  3. Em 1460, Portugal já havia chegado até a região da atual Serra Leoa. E para ajudar o católico país de Potugal, o papa Eugênio IV, garantiu-lhe através de uma bula o monopólio comercial no continente africano e o direito de "capturar e subjugar os sarracenos(muçulmanos) e pagãos (africanos) e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, como também seus reinos,ducados, principados e outras propriedades, assim como reduzir essas pessoas à escravidão perpétua.
  4. Em 1488 Bartolomeu Dias dobrou a extremidade sul do continente africano, chamando o acidente geográfico ali encontrado de cabo das Tormentas, mudando esse nome para cabo da Boa Esperança.
  5. Em 1498 Vasco da Gamoa chega a Calicute, na Índia atual. Era a prova definitiva de que se podia chegar ao Oriente sem passar pelo Mediterrâneo.
  6. Em 1500 Pedro Álvares Cabral afastando-se da costa africana alcançou terras a oeste do Atlântico Sul. As razões desse afastamento - se propositado ou acidental - são discutidas até hoje entre alguns historiadores. Cabral avista um monte que recebeu o nome de monte Pascoal (por ser a semana da Páscoa); aterra foi batizada com o nome de Vera Cruz, posteriormente alterado para Terra de Santa Cruz. O nome atual, Brasil, só passou a ser adotado apartir de 1503, devido à grande quantidade da árvore chamada pau-brasil encontrada no litoral. Após isso, Cabral segue viagem em direção à Índia, a fim de estabelecer tratados de comércio com os povos do Oriente

Pero Vaz de Caminha, escrivão de Cabral descreve o Brasil ao rei de Portugal:

Esta terra, Senhor, é muito chá e muito formosa. Nela até agora não podemos saber se haja ouro, nem prata, nem nenhuma coisa de matal..., porém a terra em si é de muioto bons ares: as águas são muitas, infindas; em tal maneira é graciosa, que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela de tudo, porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente...

  1. Em 1501 o florentino Américo Vespúcio, a serviço do rei de Potugal, mapeou essas terras, chegando à conclusão de que não faziam parte das Índias, mas sim de um novo continente que, em sua homenagem, passou a ser chamado de Ámérica.





Entretanto, o enriquecimento do reino português era apenas aparente. Além de contar com o escassos recursos humanos e materiais, seus empreendimentos marítimos não condiziam com a dependência em relação a outros centros, especialmente as companhias comerciais holandesas e italianas. Interesses mercantis submetidos aos da coroa e nobreza a ela associada sugavam recursos e se tornariam mais um entrave ao desenvolvimento comercial. Assim, o capital gerado no processo acabou sendo transferido para outros centros europeus, seja pela dependência de financiamentos externos, seja pelos gastos da coroa e da nobreza, o que impediu um processo e acumulação de capitais para investimentos dentro do próprio reino.

Expansão Espanhola


Ocupados com a unificação dos reinos locais de Aragão e Castela, que ocorreu em 1469, e com a expulsão dos árabes, na Guerra da Reconquista, que só se concluiria em 1492, os espanhois começaram sua expansão marítima um pouco mais tarde. Em 1492, os reis Fernando de Aragão e Isabel de Castela aprovaram o audacioso plano de Cristóvão Colombo de chegar ao Oriente indo rumo ao Ocidente. No meio do caminho, no entanto, o navegador deparou com a ilha de Guanaani, atualmente San Salvador, parte das Bahamas. O episódio ficaria conhecido como o descobrimento da América. Porém, até então, pensava-se que as terras faziam parte da Ásia. Sendo assim, Portugal reivindicou direitos sobre as áreas descobertas, e, em 1493, as duas potências assinaram , sob a intermediação do papa Alexandre VI, a Bula Intercoetera, por essa os espanhois tinham assegurado a posse das terras americadnas descobertas ou a descobrir. Restava a Portugal a posse das terras africanas. Substituída no ano seguinte pelo Tratado de Tordesilhas, dividindo entre si as terras já conhecidas e as que ainda seriam descobertas por meio de uma linha imaginária localizada a 370 léguas do arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas a oeste do meridiano de Tordesilhas pertenceriam à Espanha, enquanto as terras a leste seriam portuguesas. O "mundo descoberto" foi, assim, dividido entre portugueses e espanhóis. Entretanto, outros reis como o da França e o da Inglaterra, não concordavam com essa divisão.



Outros navegadores espanhóis


  1. 1499: Alonso Ojeda chega à Venezuela.

  2. 1500: Vicente Pinzón chega ao Brasil, no Amazonas

  3. 1511: Diogo Velasquez conquista Cuba.

  4. 1512: Ponce de León conquista a Flórida.

  5. 1513: Vasco Nunez Balboa alcança o oceano Pacífico.

  6. 1516: Dias Sólis chega ao rio da Prata.

  7. 1519: Fernão de Magalhâes e Sebastião del Cano partem para a primeira viagem de circunavegação( volta completa ao mundo). Magalhâes morre durante a viagem e Sebastiâo completa viagem em 1521.

  8. 1519: Fernão Cortez inicia a conquista do México.

  9. 1531: Francisco Pizarro inicia a conquista do Peru.

  10. 1537João Ayola chega ao Paraguai.

  11. 1541: Francisco Orellana explora o rio Amazonas.

Navegações Francesas, Inglesas e Holandesas.

Igualmente interessados em um novo caminho para o Oriente, e , não aceitando o Tratado de Tordesilhas, que dividia o mundo de então, entre Portugal e Espanha, franceses e ingleses lançaram-se às explorações marítimas, concentrando-se no Atlântico Norte, pois espanhois e portugueses já se dedicavam às rotas do Atlântico Sul. Com isso, supunham que poderiam encontrar uma "passagem noroeste" para a Ásia. A sonhada passagem noroeste não foi encontrada, mas possibilitou que França e Inglaterra ocupassem a parte norte da América, além de praticar a pirataria. Na Inglaterra, a pirataria foi oficializada. A monarquia inglesa autorizava ataques e pilhagens contra navios de nações inimigas, desde que os piratas (chamados de corsários ) dividissem os lucros dos saques com o governo inglês.

  • França: 1524: Giovano Verrazano explorou vasta região do litoral leste da América do Norte. 1534: Jacques Cartier explorou a região do atual Canadá navegando pelo rio São Lourenço.
  • Inglaterra: 1497: Giovanni Caboto atingiu a América do Norte (atual Canadá). 1577: Francis Drake, pirata inglês, empreendeu a segunda viagem de circunavegação, assaltando navios espanhóis.
  • Holanda: 1609: Henry Hudson, descobriu na área que hoje corresponde aos EUA o rio que atualmente leva o seu nome (rio Hudson). 1624: A Companhia das Índias Ocidentais, invade a Bahia, no Brasil. 1630: Forçados a se retirar da Bahia, os holandeses atacaram Pernambuco e conquistaram a região açucareira. Permaneceram no Brasil até 1654.

Consequências das navegações

Além de resultar na formação de enormes impérios coloniais, principalmente na América, a descoberta de novas terras e rotas comerciais provocou alterações profundas na sociedade européia. O Velho Mundo se tornou o centro e o principal beneficiado de um comércio mundial que interligava quatro continentes. Por causa disso, a diversificação dos produtos e o aumento dos valores negociados proporcionaram um enriquecimento maciço das burguesias. Essas mudanças, ficaram conhecidas como Revolução Comercial. Podemos definir a Revolução Comercial como o conjunto de mudanças que se operaram na economia mundial entre os séculos XV e XVII,consolidando de forma definitiva os alicerces do mundo capitalista. O mar Mediterrâneo, que constituía o principal eixo econômico europeu, acabou sendo suplantado pelo oceano Atlântico. O desenvolvimento da navegação através desse oceano possibilitou o acesso a vastíssimas regiões do globo até então desconhecidas dos europeus, tornando o comércio uma atividade de escala mundial.

A exploração das terras americanas, africanas e asiáticas significou, assim, não só a ampliação das opções de comércio, mas também a maior diversificação dos produtos comercializados e a expansão dos mercados consumidores e abastecedores. Além disso, a descoberta das jazidas minerais americanas assegurou o afluxo de grandes quantidades de metais preciosos, solucionando o problema da carência monetária européia. Assim, a expansão marítima, e o comércio europeu, estabeleceriam as condições financeiras necessárias para a burguesia européia produzir, por meio da acumulação primitiva de capitais, verificada durante o período da Revolução Comercial, uma transformação ainda maior: a Revolução Industrial.

O poeta Fernando Pessoa ao escrever sobre as navegações, está também, refletindo temas atuais e universais que preocupam os homens hoje.

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito desta frase, transformada a forma para a casar com o que eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não canto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torna-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a mina alma a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade, ainda que para isso tenha de a perder como minha (...).

Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele espelhou o céu.

Personagem:Zheng He (1371-1435) enquanto os portugueses se preparavam para iniciar suas viagens ultramarinas em direção ás Índias um navegante chinês, já dominava o oceano Índico. Eunuco oriundo de família muçulmana a serviço do imperador chinês. Entre 1405 e 1433, ele realizou sete expedições pelo oceano Índico, chegando à Índia, ao golfo Pérsico, à África oriental e ao sudeste da Ásia. Uma dessas expediçoes contou com uma frota de 62 embarcações e cerca de 30 mil marinheiros. Nessas viagens, os chineses entraram em contato com cerca de quarenta reinos, estabelecendo relações comerciais e diplomáticas com eles. Zheng He navegava com o auxílio de uma bússola, instrumento inventado pelos chineses quase 2 mil anos antes.




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