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O Tráfico negreiro antes da chegada dos portugueses na África
A escravidão era conhecida na África negra (região subsariana = sul do deserto do Saará) desde tempos remotos, mas tratava-se de escravidão doméstica, para serviços caseiros e em pequena escala. Somente com a chegada dos árabes é que se introduziu a procura maciça de escravos negros, sendo os sudaneses os preferidos.
Assim, o norte da África foi invadido por árabes beduínos, onde converteram a maioria dos berberes (povos de pele clara) ao islamismo. O domínio árabe intensificou as ligações comerciais entre o norte e o Sudão (África negra).
Percorrendo o deserto de norte a sul, as caravanas de camelos traçaram uma rede de contatos comerciais constituídas pelas rotas denominadas "transaarianas". O sal, o ouro e os escravos eram os principais artigos desse comércio.
O sal, um produto de primeira necessidade no Sudão, era extraído nas salinas do Saará. Os mercadores do norte trocavam o sal no Sudão Ocidental por cereais, ouro e escravos. Estes destinavam-se ao trabalho nas salinas, de onde tinham poucas chances de retornar.
O ouro era retirado nas regiões do Alto Senegal e levados por mercadores árabes ao norte da África, como Ceuta, Tânger e Tunísia, Marrocos pontos terminais das rotas transarianas, frequentadas por judeus e genoveses entre outros.
Os mercadores muçulmanos já em 642 passam a se interessar pelos recursos humanos da África negra A primeira expedição dirigiu-se a Núbia, onde um rei local aceitou pagar um tributo anual de 360 escravos de ambos os sexos.
Durante muito tempo, as expedições transaarianas teriam um impacto muito limitado. Porém a partir do século XVI que o tráfico se organiza e passa a alcançar proporções cada vez maiores.
O tráfico negreiro organizou-se de maneira pacífica. Donos da costa sul do Mediterrâneo e da península Arábica, os muçulmanos comandavam as rotas comerciais africanas.Esse comércio dava muitos lucros, pois a moeda utilizada era pequenas conchas coloridas, chamadas cauris, com as quais os árabes, e depois os europeus, enchiam seus porões no oceano Índico. Eles também gostavam de manufaturas como tecidos, pedaços de cobre , ferro e vidro.
No final da Idade Média, os soberanos africanos passam a comprar armas e cavalos. Artigos considerados de luxo: um cavalo valia de 15 a 20 escravos. Bem equipados eles devastavam os vilarejos capturando mais pessoas e vendendo-as como escravos.
Até os século XVI, o tráfico negreiro estava nas mãos dos muçulmanos, e mercadores árabes ou persas, vendiam escravos negros, famosos pela força e pelo vigor, nas costas do Mediterrâneo, assim como em todo o oceano Índico e até na China (Cantão)
Logo os chineses se interessaram pelo tráfico, lançando várias expedições marítimas nessa direção. Porém, o monopólio muçulmano só viu-se ameaçado quando os portugueses começaram a navegar as costas da África, no final da Idade Média, aumentando ainda mais a desgraça e o sofrimento desse povo.
Texto extraido do livro História do Brasil no contexto da história ocidental de Luíz Koshiba,ed. Atual e da revista História viva, ano VII, nº 80.