Imagem que representa o bandeirante Domingos Jorge Velho. Fonte: blog.educacional.com.br
Entradas e bandeira foram expedições de desbravamento do interior do Brasil realizadas entre o século XVII e XVIII, geralmente a partir da capitania de São Vicente, em direção a todas as regiões do país. De maneira geral, dizemos que entradas eram as campanhas oficiais financiadas pelo governo, elas partiram da Bahia, Espírito Santo, Ceará, Sergipe e Pernambuco para o interior com a missão de descobrir metais e pedras preciosas; já as bandeiras resultavam da iniciativa de particulares. Os principais objetivos das bandeiras eram: a caça ao índio, a busca por metais preciosos e o sertanismo de contrato. Elas também contribuíram muito para a conquista de novos territórios, desconsiderando a linha de Tordesilhas, resultaram no maior ciclo de expansão dos domínios portugueses na América.
A expansão bandeirante
A pobreza da inicialmente próspera capitania de São Vicente, diante do sucesso do empreendimento açucareiro no nordeste, levou à organização de bandeiras.
Caça ao índio: Nas últimas décadas da União Ibérica (1580-1640), época em que Portugal estava submetido ao domínio espanhol, os holandeses tomaram dos portugueses os principais pontos de tráfico de escravo na costa da africana. Com exeção de Pernambuco, que também estava sob o domínio holandês, a Colônia não tinha acesso a carregamentos de escravos.A solução encontrada foi a substituição dos negros pelos indígenas. Além da experiência dos vicentinos em organizar expedições para a caça de índios desde o ínicio da colonização, o fato da região ficar longe da metrópole, e o solo não ser muito bom para à cana-de- açúcar levou os Paulista a buscarem novas alternativas econômicas.
Muitas bandeiras atacaram as missões jesuíticas do oeste e sul da Colônia, capturando dezenas de milhares de nativos. Os indígenas aculturados tinham valor mais alto que os demais, por estarem mais adaptados ao trabalho agrícola segundo o modelo europeu.
A atividade apresadora de indígenas entrou em decadência com o fim do domínio espanhol e a retomada do comércio de africanos pelos portugueses, normalizando o abastecimento de escravos para a Colônia. As incursões eram comandadas por portugueses ou descendentes desses, como António Raposo Tavares e Fernão Dias Pais Leme.
Há diversas pinturas na biblioteca monástica paulistana. Dentre elas destaco um quadro trasladação dos restos mortais do bandeirante Fernão Dias Paes leme para o interior da Igreja do Mosteiro no Século XVII. Sua sepultura encontra-se no transcepto da Basílica do Mosteiro até hoje. No quadro pintado por Joaquim da Rocha Ferreira em 1953, dá para perceber a antiga edificação do Mosteiro paulista, demolido no início do Século XX para a construção do prédio atual.
Fonte:Culturageralsaibamais.wordpress.com
Em busca do ouro
Em 1648, Portugal retomou o controle sobre o tráfico negreiro no Atlântico. Paralelamente, a produção de açúcar, então principal atividade econômica da colônia, começava a entrar em decadência. Os dois fatores contribuíram para surgimento de um novo tipo de expedição, as bandeiras de prospecção, que buscavam metais preciosos, com o incentivo da coroa portuguesa. As primeiras rumaram ao atual estado de Minas Gerais, permitindo o surgimento da intensa atividade mineradora que ali se desenvolveu no século XVIII. Em seguida, direcionaram-se a Mato Grosso e a Goiás, onde também encontraram ouro. Os principais líderes foram: Bartolomeu Bueno da Silva, Fernão Dias Pais Leme e Manuel de Borba Gato.
Manuel de Borba Gato, genro de Fernão Dias.Fonte: Flick.com
As descobertas de Borba Gato levaram o governo do RJ a perdoá-lo pelo assassinato de Rodrigo Castel-Branco
Sertanismo de Contrato
Por conhecer bem os sertões, muitos bandeirantes foram contratados por fazendeiros para combater índios e negros que resistiam à escravidão. As mais conhecidas foram as comandadas pelo Paulista Domingos Jorge Velho, nas décadas de 1680 e 90, e resultaram na destruição do Quilombo dos Palmares. Os bandeirantes receberiam, pelo trabalho prestado, sesmarias na área do quilombo e um quinto da riqueza tomada aos negros, além de uma gratificação por escravo devolvido. Seus eventuais crimes seriam perdoados pelo governador e pelo ouvidor-geral.
O Mito dos heróis bandeirantes
"As bandeiras procuravam riquezas, submetendo nativos e escravos fugidos e descobrindo metais preciosos. A versão histórica de glorificação desses aventureiros desbravadores de nosso território surgiu no século XIX. O viajante francês Saint Hilaire, que esteve no Brasil entre 1816 e 1822, escreveu sobre a expansão interiorana dos paulistas, enfatizando a coragem desses conquistadores e referindo-se a eles como "uma raça de gigantes". Outros historiadores seguiram pelo mesmo caminho, exaltando os feitos dos bandeirantes, transformando-os em homens cultos, ricos e "heróis da pátria". Contudo, considerando-se que, dos séculos XVI ao XVIII, o Brasil ainda era português, não se sustenta essa ideia de "heróis nacionais". E mais: os bandeirantes primaram pelo uso da violência, escravizando indígenas e atacando jesuítas e escravos rebelados. Por fim, ao contrário do mito construído, não predominava a riqueza na região paulistana dos bandeirantes, pois em boa parte eles haviam sido pequenos lavradores desejosos de mão de obra escrava indígena e pequenos comerciantes que procuravam a fortuna rápida."
Trecho do livro de Cláudio Vicentino História Geral e do Brasil. ed. Scipione, São Paulo, 2011, pg.104.